domingo, maio 17, 2015

Demolições na Ria Formosa - Linha da Frente - "Eu sou ilhéu"



Linha da Frente - "Eu sou ilhéu" - Demolições na Ria Formosa

Emitida na RTP-1, dia 16 de Maio de 2015:


Infelizmente esta foi uma peça pouco ambiciosa, que mal resvalou na superfície da questão. Custa a crer que veio da mesma casa que tem brindado o país com excelentes peças de investigação e denúncia, mas que por vezes parece posicionar-se como ferramenta de propaganda do sistema. Tal como acontece invariavelmente com as reportagens sobre as manifestações contra as touradas por exemplo, os agressores - neste caso a POLIS e seus lacaios - são filmados com a sua aura de doutor, a voz da razão; e os protestantes praticamente apenas como criaturas caprichosas e emocionais. Além das histórias pessoais de alguns dos habitantes que resistem ás demolições, nada foi mostrado que evidenciasse as contradições e ilegalidades da POLIS, uma entidade extinta o ano passado mas que continua a actuar com total impunidade e só recentemente foi travada temporariamente por ordem de tribunal. As demolições que supostamente querem devolver as ilhas à natureza, além de feitas sem cuidado, exterminando habitações e espécies animais no processo, poluindo ainda mais as areias, já bastante fustigadas pela poluição de esgotos que correm alegremente pela Ria Formosa sem intervenção das autoridades; ignoram alegremente o animal humano nativo da região a favor do animal humano abastado, como se vê pela continuação da construção de vivendas também dentro do tal espaço sagrado de Domínio Público Marítimo, ou coisa que valha, e pelas negociatas alimentadas por estas parcerias entre entidades do Estado e empresas duvidosas. Na opinião pública vejo muitos contentes com as demolições, disfarçando mal a inveja com a legalidade. Se as construções são consideradas ilegais, são apenas por capricho perpetuado ao longo das décadas. Bem podem vir com a propaganda, mas quem cresceu na Ria como eu, que teve a minha casa de família de décadas na ilha da foto acima feita em frangalhos, sabe que a maioria de nós não passa férias nas ilhas, usando de borla os privilégios que devíamos pagar a preço de ouro como se fossemos turistas ricos. Viver nas ilhas, ou entre a ilha e "a terra" é um modo de vida, integrados em comunidades que podiam e deviam ser reguladas, até valorizadas como património cultural e social. Mas é mais confortável e conveniente financiar aberrações como a POLIS com rios de dinheiro público para privilegiar interesses privados dos mais abastados. São os Governos que temos.

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